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Escrito por Neo Mondo | 6 de junho de 2022
Homem caminha na água carregando um cachorro durante uma enchente causada por fortes chuvas, em Itapetinga (26/12/21), Bahia - Imagem: Manuella Luana/AFP
POR - REDAÇÃO NEO MONDO
Especialistas esclarecem a importância dos ecossistemas naturais preservados na resiliência das cidades diante de fenômenos climáticos
A cada ano, a cena se repete com a chegada do verão. Fortes chuvas em diferentes partes do país provocam cheias dos rios, alagamentos nas cidades, deslizamentos de encostas e, com isso, mortes, pessoas desalojadas ou desabrigadas, infraestrutura destruída e grandes prejuízos financeiros. Mas, afinal, o que é possível fazer para evitar ou minimizar novos episódios? Especialistas ressaltam que não existe resposta simples, mas concordam que a conservação dos ecossistemas naturais é fundamental na mitigação dos impactos dos fenômenos climáticos extremos, que devem ser cada vez mais frequentes.
Diferentes cidades do mundo já desenvolvem projetos que consideram a implantação, manutenção e recuperação de áreas verdes em pontos estratégicos para criar um sistema natural capaz de absorver a água da chuva, filtrar sedimentos do solo e até reduzir custos com saneamento básico e melhorar a saúde pública. “Claro que existem situações extremas que não podem ser mitigadas, mas a infraestrutura natural deve fazer parte de uma estratégia para garantir cidades mais inteligentes e resilientes para o futuro. Um dos melhores exemplos nesse sentido são cidades-esponjas da China, que utilizam soluções naturais para drenar a água das áreas urbanas, e não coletar e jogar tudo rapidamente nos rios”, explica a paisagista urbana Cecilia Herzog, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
A ideia é simples: quanto mais cobertura vegetal uma cidade possui, maior a capacidade de drenar a água da chuva e reduzir o impacto das enchentes. Parques alagáveis, jardins de chuva, calçamentos permeáveis, telhados verdes, hortas comunitárias e praças-piscinas são algumas das estratégias que também já são usadas com sucesso no Brasil. O Parque Barigui, em Curitiba, é um exemplo de como é necessário respeitar os cursos d’água para evitar problemas sérios, gerando, inclusive, benefícios para a qualidade de vida da população. Ao preservar e restaurar ecossistemas naturais, além de buscar inspiração em soluções ancestrais, é possível reduzir o uso de infraestrutura cinza, diminuindo ainda custos para o poder público.
Dados e fatos
Margens dos rios
Uma das estratégias mais importantes para reduzir os efeitos das enchentes é a proteção das margens dos rios, que são consideradas Áreas de Preservação Permanente (APP) de acordo com Código Florestal Brasileiro. A definição das faixas mínimas a serem protegidas visa garantir que as funções gerais dessas áreas sejam minimamente resguardadas, tanto no espaço rural quanto no urbano. Fruto do crescimento desordenado das cidades, a redução das APPs amplia os efeitos das enchentes e deixa a população mais exposta a prejuízos e tragédias.
“As APPs contribuem para a proteção da biodiversidade, ajudam a regular o microclima, protegem recursos hídricos, reduzem os efeitos das ilhas de calor em grandes cidades e regiões metropolitanas e também oferecem bem-estar para as populações”, pontua André Ferretti, gerente sênior de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário e também membro da RECN.
Em dezembro, o Congresso Nacional aprovou o projeto de lei que transfere da União para os municípios a competência para definir as regras de proteção às margens de rios, lagos, lagoas e demais cursos d’água de cidades brasileiras. A medida é vista com preocupação pelos especialistas, pois deve facilitar as pressões locais para a modificação do uso destas áreas. “Não faz sentido flexibilizar a legislação, gerando incertezas sobre essas áreas e colocando a população em risco. Ao poder induzir desmatamentos, a mudança na lei também vai contra o acordo de desmatamento zero até 2030 assumido pelo Brasil durante a COP26”, alerta Ferretti.
Portanto, é real que áreas verdes são capazes de reduzir o impacto das enchentes nas cidades.
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