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O COLAPSO VERDE

Escrito por Neo Mondo | 21 de maio de 2025

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Cada hectare perdido colabora para o colapso da humanidade - Imagem gerada por IA - Foto: Divulgação

POR - OSCAR LOPES, PUBLISHER DE NEO MONDO

Incêndios descontrolados, seca extrema e negligência política colocam o Brasil no topo de um ranking vergonhoso: o de maior destruição de florestas tropicais do mundo. A Terra, cada vez mais árida, assiste à sua própria decadência — em tempo real

"A floresta cai em silêncio. Mas o estrondo de sua ausência ecoará por gerações."

Em 2024, o mundo cruzou uma fronteira perigosa. O planeta registrou a maior perda de florestas tropicais primárias em mais de duas décadas.
Segundo levantamento do Global Forest Watch e do World Resources Institute (WRI), 6,7 milhões de hectares de vegetação nativa foram destruídos — o equivalente a derrubar 18 campos de futebol por minuto durante o ano inteiro.

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No centro deste desmoronamento verde, um protagonista relutante: o Brasil, que sozinho respondeu por impressionantes 42% da destruição global.
Foi aqui, sob nossas fronteiras, que se consolidou o epicentro da devastação florestal planetária.

O país em chamas: incêndios superam a agricultura como vetor da perda

Pela primeira vez, o principal motor do desmatamento não foi o avanço da agricultura — mas os incêndios, exacerbados pela crise climática e pela omissão estatal.

A Amazônia, o Pantanal e partes da Mata Atlântica viraram cinzas diante de uma combinação explosiva: a pior seca em 70 anos, recordes históricos de temperatura e a fragilidade da fiscalização ambiental.

Só em 2024, o Brasil perdeu 4,44 milhões de hectares de floresta nativa e lançou na atmosfera cerca de 1,82 gigatoneladas de CO₂ — mais do que quatro vezes todas as emissões do setor aéreo global em 2023.

imagem do infográfico com os 10 países que tiveram a maior perda florestal em 2024, remete a matéria o colapso verde
O Brasil sozinho respondeu por impressionantes 42% da destruição global - Foto: Divulgação

Quando as florestas desaparecem, o planeta adoece

“Estamos diante de um alerta vermelho planetário. Não se trata mais de prever o colapso — estamos vivendo nele.”
Elizabeth Goldman, codiretora do Global Forest Watch

A destruição das florestas tropicais não é apenas uma tragédia local. É uma ruptura no sistema climático global.

Ao perdermos essas florestas, perdemos também nossos maiores aliados contra o aquecimento global. A cada árvore que cai, o planeta se torna menos capaz de capturar carbono, de manter o ciclo da água, de sustentar a biodiversidade.

É o início de um círculo vicioso infernal: o clima aquece, as florestas queimam, o carbono se acumula, o clima aquece ainda mais.

Promessas descumpridas, futuro em risco

Durante a COP26, em Glasgow, mais de 140 países — Brasil incluído — assinaram um compromisso solene: parar e reverter a perda florestal até 2030.
Três anos depois, o que temos é um rastro de cinzas e promessas esvaziadas.

Especialistas alertam que estamos nos aproximando de pontos de não retorno ecológicos, como o colapso da Amazônia, que pode se transformar em savana irreversível — uma transição silenciosa, mas catastrófica.

Belém, COP30 e a última chance

Com a realização da COP30 em Belém, o Brasil volta ao centro das discussões climáticas internacionais.
Mas se quiser ser reconhecido como potência ambiental, precisará primeiro deixar de ser a principal engrenagem da devastação florestal global.

Essa será, talvez, a última oportunidade de o país virar o jogo e liderar uma agenda séria, estruturada e corajosa de regeneração ecológica.

Os números de 2024 não são apenas estatísticas — são epitáfios verdes de um sistema em colapso.
Cada hectare perdido é uma sentença escrita no futuro da humanidade.

A floresta, quando cai, não grita. Mas seu silêncio sepulcral é o prenúncio de um mundo mais quente, mais seco, mais injusto.
Ainda é possível recuar. Mas a janela está se fechando — e o tempo da hesitação acabou.

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