Foto (útero) – Maira Kellermann
POR – OSCAR LOPES, PUBLISHER DE NEO MONDO
O oceano é a primeira morada da vida. Antes de darmos os primeiros passos em terra firme, fomos moléculas, células, organismos que evoluíram nesse imenso cosmos azul. O filósofo francês Gaston Bachelard nos ensinou que a água é um elemento primordial da imaginação humana. O mar, mais do que um espaço físico, é um símbolo, um arquétipo, uma metáfora da própria existência.
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Desde os primeiros navegantes, o oceano representou o desconhecido. Foi a primeira grande fronteira do homem, desafiando nossa coragem e despertando nossa criatividade. Os gregos o veneravam como um domínio divino – de Posêidon a Thalassa –, enquanto os polinésios viam o mar como um caminho sagrado que conectava ilhas e almas. Civilizações inteiras se ergueram e caíram ao redor dessas águas, e sua influência transcende tempo e espaço.
Mas o que o oceano representa hoje? Na era moderna, ele continua sendo uma ponte entre os povos, um reservatório de biodiversidade e um regulador climático. É também um testemunho silencioso da exploração desenfreada e da crise ecológica. Se por um lado o oceano sempre nos ofereceu tudo – alimento, inspiração, caminhos –, por outro, estamos à beira de perder essa conexão sagrada ao transformá-lo em um depósito de plástico e resíduos.
A filosofia contemporânea nos convida a reavaliar essa relação. O conceito de ecofilosofia, defendido por pensadores como Arne Næss, nos instiga a abandonar a visão utilitária do oceano e enxergá-lo como parte de um sistema interdependente do qual também fazemos parte. Como nos ensina o filósofo Edgar Morin, a complexidade do mundo exige uma visão integrada: não há humanidade sem oceano, e não há oceano sem humanidade.
O século XXI é um ponto de inflexão. A ciência já nos mostrou que o oceano absorve cerca de 30% do CO₂ gerado por atividades humanas, regula o clima global e mantém ecossistemas que sustentam mais de 3 bilhões de pessoas. No entanto, a acidificação dos oceanos, a sobrepesca e o aumento das temperaturas ameaçam esse equilíbrio.
Talvez a resposta esteja em redescobrir o oceano não apenas como um recurso, mas como um universo vivo e essencial. Precisamos restaurar o senso de pertencimento, compreender que o destino da água salgada que cobre 71% do planeta é também o nosso. O futuro não pode ser escrito sem sua preservação. Como Jacques Cousteau dizia: “Proteger o oceano é proteger a nós mesmos.”
Hoje, o oceano chora. O azul que já foi sinônimo de pureza vê-se tingido pelo plástico, pelo óleo, pela indiferença. Aquece-se sem febre, asfixia-se sem ar. Mas ainda há esperança. Se soubermos escutar sua voz, se aprendermos a respeitar sua força, talvez possamos recuperar o equilíbrio perdido e devolver ao oceano o que ele sempre nos deu: vida, poesia e mistério.
A pergunta que fica é: estamos prontos para devolver ao oceano o respeito que ele merece?